Exterior da Mansão

Normalmente, adentrar aquele lugar seria um atestado de morte. Principalmente se a pessoa não tivesse sido convidada. Mas era extremamente difícil impedir que Johan Liebert fosse a algum lugar, até mesmo os ocasionais seguranças sabiam que não era uma boa ideia ficar na frente daquele rapaz. Havia algo nele, um ar doentio, algo que causava medo e repulsão, fazendo com que as pessoas naturalmente se afastassem. Isso e o sorriso que ele trajava em seu rosto, ele nunca ficava genuinamente feliz por nada, mas suas investigações, que foram extremamente breves, haviam levado-o até ali.

Até o esconderijo da assassina.



A presença dele já deveria ter sido notada por ela, logo ela iria até ali, receber seu visitante. Provavelmente o mataria no processo, é claro, pois ficara óbvio para todos que aquele não era um homem que passava um ar de confiança. Naturalmente, se ele desejasse, podia fingir ser uma pessoa completamente diferente, mas não havia tempo para aquelas máscaras e joguetes. Havia apenas interesse. Muito, mas muito interesse.

- Você é ou muito arrogante ou muito ingênuo para vir até minha casa e nem ao menos apagar essa sua personalidade detestável.

♚ A Rainha de Copas tocou uma katana muito próxima ao pescoço dele. Johan não conseguiria tê-la ouvido chegar, seus passos eram silenciosos e sutis, sua presença passava facilmente despercebida, mesmo como seu Alter-Ego. Aquela moça era além de psicopata, bastante habilidosa. E ela não possuía medo dele.
Talvez por algum defeito em seu cérebro. ♚

- Vire-se devagar. E diga por qual motivo está aqui, ou entenderá facilmente porque me chamam de Queen of Hearts.

- Ora essa, e adiantaria de algo esconder o que sou perante você? Não, creio que isso não seja algo necessário.

Johan girou-se lentamente, sentindo conforme a lâmina da katana respirava contra a pele de seu pescoço, desejando atravessá-lo. Mas aquilo não aconteceria, ela não o mataria ali. Ela era a única variável em seu plano que ele ainda não pudera encaixar em algum lugar decente, pois nunca havia conhecido-a pessoalmente. É claro, outras pessoas que estavam envolvidas também nunca tiveram um contato direto com Johan. Mas elas eram de menor importância, não estariam envolvidas diretamente em seu plano, seriam apenas um... acaso.

- Eu sei porque lhe chamam por este nome, minha rainha. E você sabe que não precisa desta espada para conversarmos. Um monstro compreende o outro, não é mesmo? - Johan ainda mantinha aquele sorriso perturbador em seu rosto, conforme seus olhos registravam cada detalhe da aparência de Queen, ou Raika, ou o nome que desejasse usar - Estaria interessada em matar centenas de pessoas, em plena luz do dia sem ser perseguida?

- Decididamente, é arrogante.


♚ Queen era uma variável difícil de contar. Isso porque ela era imprevisível, não havia como manipulá-la ou controlá-la totalmente. Ela própria já havia visto Johan antes, caminhando pela cidade, uma máscara de bondade escondendo sua face. Como dizia o ditado, um monstro reconhecia o outro. ♚


- Bem, ao menos é uma pessoa sábia. E só porque um monstro compreende um igual, não quer dizer que seja confiável. - sua espada moveu-se um pouco para ficar encostada sobre o ombro dele, o que poderia ser algo como uma trégua, se Queen não pudesse simplesmente movê-la como um raio para degolá-lo em questão de segundos. - Me parece uma ideia interessante, monstro. Fale-me mais sobre ela.

- E não somos todos assim?

A visão que Johan possuía dos humanos era algo deturpado, os vendo como meras formigas, que trabalham apenas para sustentar seu ego em um universo que não se importa com eles. É claro, haviam formigas boas e formigas ruins, mas não era como se isso realmente importasse. Uma visão niilista e completamente apática.

- É claro que não, confiar em outro ser vivo é algo patético - Falou Johan, seu sorriso diminuindo um pouco e ficando levemente mais sério. Ele contou para Queen o seu plano, sobre o que faria com a Cidade Baixa e, por extensão, com a Neo Tokyo inteira. Sobre como criaria os campos de caça perfeitos para uma pessoa como Queen. E mesmo que, se por algum acaso, o plano dele falhasse, ela ainda poderia matar o quanto desejasse, sem tomar culpa pelas mortes que causaria - O que acha?

- Depende de a quem você está se referindo com esse "nós". 


♚ A mulher encarou-o aparticamente, então finalmente abaixou a Katana, prendendo-a novamente na bainha que pendia de sua cintura. A máscara kabuki que cobria seu rosto foi tocada com a ponta dos dedos, como se ela fizesse menção de levantá-lo. Entretanto, ela parou na metade do caminho e deixou-a onde estava. ♚



- Não... não vai ser assim tão simples. - ainda assim, ela ouviu atentamente o plano e em seguida começou a gargalhar. - Parece uma utopia. Você tem certeza de que ninguém irá atrás de você a tempo de pará-lo? Um simples deslize e seu plano vai por água a baixo, Monstro.

- Da humanidade em um geral.

Não houve reação da parte de Johan, mesmo quando ela abaixou sua katana, ou quando fez menção de erguer sua máscara. Johan continuava com um sorriso tranquilo em seu rosto, como se nada importasse. E realmente, para ele, nada importava naquele momento. E nem nunca importaria. Pois ele havia visto o Cenário do Fim do Mundo, e ele sabia que aquilo já não era algo que poderia ser evitado. Se todos morriam, se tudo em algum momento iria acabar, porque se importar com outras coisas?

- Claro que vão ter pessoas que vão desejar me impedir. Eu estou contando com isso - Ele deu um passo, aproximando-se ainda mais de Queen, por mais ameaçador que aquilo pudesse aparentar ser, havia apenas um sorriso calmo no rosto de Johan, estava claro que ele não planejava fazer nada com ela. E então, ele sussurrou algo que apenas Queen poderia escutar. Palavras que, de começo, pareceriam sem sentido, algo vazio, algo inútil perante tudo. Mas, quando tudo aquilo fosse somado, ela poderia ver.


Ver o que Johan vira. O Cenário do Fim do Mundo. Uma terra vazia, sem nome, com céus cinzas onde o vento passava, rapidamente e sem se preocupar se havia algo em seu caminho. Um local sem esperança, um local sem um sentido ou propósito. Apenas, o fim. Johan sorriu. Era como se tudo ao redor deles, aquela mansão, a cidade mais ao longe, tudo tivesse sumido. E apenas Johan e Queen haviam sobrado. No fim do mundo.


- Você entende agora, não entende? É isso que está por vir - Falou Johan - E você poderá ter uma parte em deixar esse local dessa maneira.

O cenário sumiu. Agora, estavam de volta a mansão.

- Você terá tantas vidas á sua mercê, que será como um verdadeiro paraíso para você, assassina.

- Não sei quanto a você, mas tenho muito pouco de humana.

♚ Queen ficou estática enquanto ele se acostumava, era visível em seus olhos, observáveis através dos buracos da máscara, que não estava sentindo-se nem um pouco amedrontada. Um humano comum certamente tremeria com a aproximação dele, mas a mulher, como acabara de dizer, tinha muito pouco de humana. Ela não reagia como deveria em frente a uma ameaça. Em verdade, era como se ela não considerasse-o ameaçador o bastante para fazê-la estremecer. ♚

♚ Então, ele disse aquelas palavras. E um novo mundo descortinou-se na frente dela, como uma pintura de desolação. Como se nada mais existisse. Mesmo sua indiferença habitual pareceu sumir por um instante, sob o efeito da degradação. Afinal, ela podia ser uma psicopata sádica e cruel, mas ainda havia instintos primais a serem seguidos. E impulso para destruir era um deles. ♚

- Hum... - ela suspirou, como se pudesse sentir o cheiro da terra árida ao redor. - Dessa vez você disse algo que me interessou, Monstro.

♚ O ambiente modificou-se novamente para dar lugar ao mundo real, um mundo com pessoas demais, coisas demais. Atrás da máscara, um sorriso macabro desenhou-se em sua face. ♚

- E o que você deseja de mim?

- Mas temos o suficiente para partilhar de alguns traços deles. Por mais irritantes que estes sejam.

Como Johan havia deixado claro, ele fora até aquele local só para conversar com Queen. Não buscava ameaçá-la, muito menos atacá-la. Logo, não haviam verdadeiros motivos para ele aparentar ser ameaçador para ela. As palavras de Johan, por mais macabras e aterrorizantes que fossem, aterrorizantes para uma pessoa normal é claro, eram como mel, doces e pegajosas. Uma vez que elas fossem escutadas, era impossível tirá-las da cabeça. Nos momentos de silêncio, nos momentos mais agitados, em público ou em algum momento mais íntimo. 


Aquela voz voltaria, trazendo consigo o Cenário do Fim do Mundo. Não que isso fosse um problema para Queen. Para pessoas como ela e Johan, aquilo era mais como um sonho a ser alcançado do que qualquer outra coisa. Quando retornaram aquela mansão, tudo iria aparentar estar tão... vazio. Não que não fosse antes, pois para monstros tudo era sem sentido, mas agora parecia ser ainda mais. Não possuía aquelas cores mortas do final, não trazia consigo o som daquele vento cortante. Era apenas sem-graça.

- Não desejo muito - Falou Johan, mantendo aquele sorriso sereno em seus lábios - Tudo vai se encaixar da maneira que planejei. Mas o que você irá fazer é algo importante. Existem duas pessoas que estão buscando libertar-se e colocar tudo isso em risco. O fim não irá chegar se elas não se mostrarem presentes naquele local.

Johan pousou algo em cima da mesa e um holograma projetou-se para cima, mostrando duas imagens, a de um homem e a de uma mulher.

Pessoas:

- Lawrence Barrett e Yelena Fedorova - Falou Johan, pronunciando o nome deles lentamente - Se acompanha os noticiários, deve conhecê-los como dois dos três líderes dos Tyrants. Chegou aos meus ouvidos que eles estão com planos para sabotar todo o meu plano. E que eles estão em um feliz relacionamento. Mate Barrett da melhor maneira que achar, e que esta seja bem brutal de preferência, mas deixe Yelena viva, as habilidades dela serão necessárias. Depois disso... - Ele tocou no queixo de Queen com o dedo indicador - Poderá ceifar quantas vidas desejar.