Apartamento de Riza Nakano

Meses? Semanas? É, semanas parece ser a quantia exata. Jensen estava a semanas empregado pela Nexus. De começo, ele não aceitara a proposta, preferia manter-se longe de qualquer outra situação depois do que lhe acontecera na Sarif Corps, em Detroit. Mudara-se para Neo Tokyo justamente para poder se afastar de seu passado, porém o seu corpo jamais o deixaria esquecer. Metade do corpo de Jensen era feito de AUGS, algo um tanto impressionante para uma pessoa que tivera o corpo tão destruído como o dele. 

Seus braços eram de um metal negro, assim como suas pernas, sua coluna e até mesmo seus olhos. Haviam mais alguns AUGS aqui e ali em Jensen, como o óculos que fora implementado ao lado de seus olhos. Tendo mais ou menos um metro e oitenta de altura, cabelos negros penteados para trás, assim como uma barba rala negra, Adam Jensen atraía olhares por onde passava. Porém, no local que estava, as únicas pessoas que olhavam para ele eram os empregados do local. Ele aparecera em notícias mundiais no passado, por ter quase morrido após uma invasão de mercenários á Sarif. Nele, foram implementado AUGS experimentais, que hoje você poderia ver como os mais avançados. A Sarif sempre fora uma pioneira nisso, porém após esse incidente, a mídia destruiu a companhia e ela lentamente sumiu.

De começo, ele servira como segurança pessoal do líder da Nexus, porém fora movido para servir como segurança da filha dele. Parado, em frente a porta de Riza Nakano, ele suspirou. Erguendo seu braço metálico ele apertou o interruptor, fazendo com que o som da campainha ecoasse do lado de dentro do apartamento de Riza. Piscou, seus olhos movendo-se lentamente para notar os detalhes na porta.

Jensen entrou, passos firmes e confiantes ecoavam pelo local, denotando a presença que o homem impunha. Jensen podia não ser uma pessoa importante como Riza, estava longe de ter o alcance e influência que a família dela possuía, mas para um mero soldado e segurança, aquele homem era realmente impressionante. Fosse sua aparência, que era uma que demandava respeito e seriedade, ou pela frieza que seu olhar transmitia. Era óbvio para qualquer um que olhasse para Jensen: Aquele não era um homem com o qual você deveria mexer.

Roupa do Adam:

Adam estendeu sua mão negra, apertando a de Riza levemente. O metal era frio ao toque, como era a maioria dos AUGS feitos apenas para representar o membro do corpo humano, e não emulá-lo perfeitamente. Adam soltou a mão de Riza lentamente, fazendo uma pequena mesura respeitosa para ela. Por mais que fosse de seu costume tratar todos ao seu redor como iguais, ele já chegara a discutir com seu antigo chefe e ganhar, esse costume estava sendo lentamente perdido, conforme ele se adaptava a Neo Tokyo.

- O término em si é as duas horas da madrugada. Já o término oficial é as quatro - Ele falou - Uma medida de segurança para garantir que os convidados não sejam atacados durante a saída. O local está muito bem guardado por vários seguranças, alguns da Nexus, e todos os prédios mais próximos estão sendo revistados e protegidos nesse exato momento. Devemos partir?

Jensen, sendo criado na polícia e servindo como chefe de segurança da Sarif, sabia o quanto toda aquela preparação poderia ser incômoda para seus chefes, causando a eles muito desconforto e ansiedade. Porém, era para o melhor, uma vez que com todas as preparações em lugar, as chances de alguém terminar ferido, ou pior, morto, eram muito menores. Isso era o que ele falava para si mesmo. Pois a invasão na Sarif ocorreu apenas por causa de uma falha na segurança. Não fora culpa de Jensen, mas isso nunca impedira o sentimento de entrar em seu coração. Até porque, ele perdera uma pessoa importante para ele naquela invasão.

- Entendido - Ele falou, em seguida pegando o pequeno dispositivo e olhando para ele. Mexeu um pouco no dispositivo e em seguida seus óculos ativaram-se, cobrindo seus olhos. Ali, ele tinha um HUD personalizado e conectado a um Smartlink em todas as suas armas, informando-o de quantas balas ainda haviam nelas, assim como oferecendo um pequeno radar no canto superior direito, para informar-lhe da localização das pessoas, porém ele não possuía um grande alcance e nem sempre era preciso. Aquele HUD também demonstrava o estado atual do corpo de Jensen, que era saudável. Agora, com o que ele fizera no dispositivo, o estado de saúde de Riza também aparecia. No radar, ela era indicada por uma seta verde e ela era a única coisa exata naquela coisa - Podemos ir.

Saindo do apartamento, ele foi até o elevador, acompanhando Riza e apertou o botão para descer até o térreo. O carro deles esperava do lado de fora, Jensen não era o motorista, havia um homem especializado para isso. Mais uma das medidas de segurança dele.

Ela o acompanhou de perto e logo estavam a caminho do Vortex Club.

- Apesar de acabar às duas, creio que não ficarei até esse horário. Um dos lados bons de ter problemas de saúde.

Jensen abriu a porta para que Riza entrasse e em seguida entrou, sentando-se ao lado dela. Jensen era um pouco paranoico quando o assunto se tratava de segurança, e estando na parte de trás do carro, ou melhor limusine, ele poderia servir de escudo para a garota caso alguém atirasse. O carro era a prova de balas, porém não custava nada ser um pouco mais preparado. Com um sinal de Jensen, o motorista começou a dirigir e levá-los para o Vortex Club. Não era um local do gosto de Jensen, mas pelo menos  não era um local mais aberto.

- Como desejar - Falou Jensen, ignorando o comentário sobre problemas de saúde.

Durante o caminho, Riza permaneceu olhando para o lado de fora, perdida em pensamento. Dentro de dez minutos, eles estariam no Vortex, e ela se preparou para os sorrisos, a simpatia e os discursos.

(Vou postar no Vortex)

Depois daquela demonstração de loucura do lado de fora, aquele apartamento parecia estar em um estado ainda pior. Na verdade, tudo estava em ordem, como ela deixara. Porém, o ar que circulava aquele local era vicioso, por mais que não houvesse nada nele. Era a simples presença de Johan que causava toda aquela aversão que Riza deveria estar sentindo, um calafrio percorrendo as costas, as pernas gritando para que ela corresse, e o cérebro apenas buscando uma forma de fugir. Tudo aquilo era uma reação natural, ante a presença de um monstro.


Johan circulou Riza, pousando suas mãos nos ombros dela, um sinal claro de que ela deveria permanecer sentada. Suavemente, era como se nem estivessem ali. Riza poderia notar que havia outro homem ali, sentado calmamente em uma outra poltrona, distante de Riza. Ele não falava nada, apenas sorria. Riza não conhecia aquele homem, nunca havia visto-o em toda a sua vida. Johan abaixou lentamente seu rosto, até que seus lábios ficassem próximos da orelha direita dela. A respiração dele atingia a pele de Riza como uma suave onda do mar atinge um paredão de rochas. Ele estava calmo, no controle de tudo.

- Você já viu uma trilha de formigas? Todas andando em linha reta? Já tentou passar o dedo na frente delas, para ver o que acontece? Elas entram em pânico, se dispersam, se espalham - Ele sussurrava no ouvido dela. Uma voz tão doce como aquela, carregando tanta maldade - Foi exatamente isso que eu fiz.


Ele ergueu seu rosto lentamente, e o homem na poltrona levantou-se.

- É ela, não é? - Questionou o homem, ele estava claramente agitado. Era como um viciado que estava sem usar drogas por muito tempo, exceto que aquele homem não parecia ser do tipo de usar essas substâncias - É ela que nós vamos matar, não é?

As mãos de Johan ainda estavam no ombro de Riza. De alguma maneira, eles transmitiam calma para ela. Falavam que ela não iria morrer ali. 

- Não, não é ela - Respondeu Johan.

- Qual é, Johan? Eu preciso matar alguém - Ele falou, quase implorando - Você me disse que eu poderia matar alguém hoje.

Havia uma arma na mão daquele homem. Ele a ergueu lentamente, apontando-a para Riza.

- Só... só um tirinho. Eu preciso escutar o grito dela - Pediu o homem.

Johan ergueu seu dedo indicador, enquanto permanecia agachado na frente de Riza. Havia tanta calma nele, apesar de ter acabado de matar um homem que chegava a ser realmente assustador. Riza podia notar que ele realmente não se importava com o valor que uma vida humana possuía. Uma vida era algo que possuía um valor tão alto, que nada no mundo poderia se equiparar a ela. E Johan tirara uma como se não fosse nada, como se fosse uma pequena pedra embaixo de seu sapato.


Como se fosse uma simples formiga que ele pisoteara. O dedo indicador dele aproximava-se de Riza, lentamente, conforme ele apenas observava a reação da garota. Não importando qual fosse, o rosto dele permanecia o mesmo, frio como o gelo, imutável. E o dedo então tocou o nariz de Riza.

- Boop - Falou Johan, como quem brinca com uma criança - Realmente importa isso? Saber? 

Ele ergueu-se, ficando reto, enquanto olhava Riza de cima. Ele a rodeou novamente, pousando sua mão em cima da cabeça dela enquanto o fazia. Então, ele deixou de tocá-la e Riza poderia sentir-se mais aliviada, como se alguém tivesse removido um enorme peso de suas costas.

- O universo é tão vasto, tão enorme... algo que fazemos aqui realmente importa? A sua vida tem o mesmo valor de um grão de areia - Disse o monstro, sua voz suave e tranquila - Não importa para onde você vá, seja para Leste para encontrar um nome ou para Oeste para aprender que não precisa de um nome. No final, tudo irá acabar. E nada disso realmente importa.

Johan puxou uma cadeira para si, sentando-se na frente de Riza.

- Tenho certeza que o Doutor Tenma, bom como ele é, acha que eu caí na escuridão, mas que todas as vidas são iguais. Que eu posso ser retirado e salvo dessa escuridão - Johan subiu seus olhos para Riza, uma expressão intimidadora e aterrorizada ao mesmo tempo inundavam sua face - Eu vi uma escuridão ainda maior.

- Creio que você não me entendeu, Riza - Falou Johan, suavemente - Não há nada de especial em nascer. A maior parte do universo é morte, nada além disso. Nesse universo em que vivemos, o surgimento de uma nova vida não é nada além de um pequeno, e insignificante flash. Morrer é algo normal. Então, por quê viver?

Ele voltou a rodear Riza, parando na frente de Riza, suas mãos juntas atrás de suas costas. Aqueles olhos azuis penetrantes, olhando-a de cima, com uma falta de vida tão grande que pareciam pertencer a um cadáver. Se a teoria de Tenma estivesse correta, e algo tivesse ocorrido para deixar Johan daquela maneira, fosse os experimentos ou um acúmulo de eventos traumáticos, o que poderia ser tão forte que o transformara em um monstro? A resposta, certamente estava com aquele rapaz.


- Tudo o que você julga importante, seu código de ética, sua moral, suas regras, tudo isso - Ele piscou momentaneamente - Não importam em longo termo.


Ele abriu sua mão e a estendeu na direção de Riza, diferente da última vez que havia sido devagar, esta fora rápida. Não extremamente rápida, porém o suficiente para que a garota não tivesse uma reação de esquiva. Até porque, seria um tanto difícil escapar da presença que aquele rapaz impunha naquele apartamento. A mão aproximou-se e...


Ele apalpou o seio direito de Riza.


Retirou a mão logo em seguida, na mesma velocidade que ele a tocara.

- Está enfurecida? Chocada? Assustada? Indignada? - Ele perguntou - Tudo isso passa em algum momento, pois isso não importa. O que foi uma sensação, logo se torna uma memória. E as pessoas são feitas de uma maneira conveniente, pois todas as suas memórias ruins irão desaparecer, até que sobrem apenas as felizes. 

Ele deu uma pequena risada, deixando claro que aquilo não era tão simples quanto parecia.

- O quão fraca é a mente quando ela deseja esquecer. Talvez você não tenha se esquecido de algo. Talvez esteja apenas mentindo. É uma mentira que você irá contar para todos ao seu redor, ou é uma mentira que você contará para si mesma? - Falou Johan, afastando-se dela com um único passo - Diga-me, Riza Nakano, você realmente acha que todas as vidas são iguais?

- Nenhuma. Ao mesmo tempo, por que eu preciso respeitar isso, se é algo que não me importa? - Questionou-lhe Johan, com um pequeno sorriso em seus lábios.


Johan era uma representação viva do niilismo. Apesar de muitas pessoas afirmarem que eram niilistas, que não se importavam com nada naquele universo cruel, todas tinham algo ao que se apegavam. Algumas, simplesmente não podiam viver sem outra pessoa, outras precisam de um propósito para continuar existindo, algumas precisam tomar café caso contrário vão dar falta, outras se apegavam a noção de liberdade enquanto continuavam presas. Mas todas possuíam algo importante para elas. Menos Johan. Não havia nada naquele mundo ao qual ele se apegava. O destino de Johan era se encontrar sozinho no fim do mundo, ou ser consumido pelo niilismo. De uma certa maneira, apenas a primeira opção lhe restava e ele certamente parecia estar caminhando na direção dela.

- E você continua esquecendo elas. Leve um dia, uma semana ou um mês. Você irá esquecer - Johan falou, suas mãos voltando a ficar atrás de suas costas - Se eu fosse lhe esbofetear nesse exato momento, isso geraria uma memória ruim, poucas pessoas gostam de apanhar. Mas, conforme fossem passando os dias, você iria esquecer. É o destino de tudo ao nosso redor ser esquecido. Você sabe disso, só se recusa a ver. Nada importa.

Um leve sorriso surgiu nos lábios de Johan e ele estendeu sua mão para Riza, a palma virada para cima, oferecendo ajuda para ela levantar-se.

- Venha comigo, nós vamos até o telhado. Quero lhe ensinar um jogo que aprendi, quando ainda era criança - Do jeito que ele falava, era como se ele fosse um verdadeiro amigo de Riza - Não se preocupe, sua vida não está e nem estará em perigo. Você está a salvo comigo.

- E eu ignoro. Mas é claro, para que eu consiga o que quero, é necessário que eu interaja com elas. O destino as coloca em meu caminho

Idealismo, na visão de Johan, era apenas uma esperança dos desesperados com pessoas tentando focar-se em construir um futuro melhor, para que este apenas caísse em esquecimento e morte. Mais uma vez, algo inútil erguia-se dos pensamentos irrealistas das pessoas que o cercavam. Não fosse tão divertido manipular aquelas pessoas, quem sabe Johan ficasse levemente irritado. Mas, toda aquela sua falta de conexões o deixava imune a esse tipo de emoções. Não fosse tão monstruoso, ele certamente poderia ser comparado a um robô.

- Quando você fala isso faz parecer que eu deixo essas pessoas vivas - Aquelas palavras poderiam invocar na cabeça de Riza a imagem que vira na televisão do apartamento de Jensen, de toda uma família morta. As notícias dos dias que se seguiram afirmavam que mais e mais pessoas relacionadas aquelas estavam morrendo. 


Johan havia dado espaço demais para Riza, ela estava começando a ganhar coragem para cima dele. Algo que, em todas as situações que acontecera, se provara como o maior erro que alguém poderia cometer em toda a sua vida. Porém, o monstro mantinha um sorriso calmo em seu rosto, enquanto ouvia as palavras que ela proferia, como quem vê um filhote de cachorro latir bravamente para outro e enorme cão. O olhar de Johan, aqueles olhos azuis tão belos, tornaram-se repleto de malícia e orgulho, conforme seu sorriso se abria ainda mais.

- Belas palavras, Senhorita Nakano, fúteis, mas belas - Falou ele, seu tom de voz ainda mais sombrio do que antes - Eu estava certo em escolhê-la.

Um passo para a frente e todo o ar daquele ambiente voltou a pesar ainda mais. Se Riza havia conseguido juntar coragem o suficiente para enfrentar Johan com suas palavras, aquela aura dele deixava claro que o monstro ainda estava no controle daquela situação. A porta foi destravada, e Johan voltou a estender sua mão para Riza, toda a sua leitura corporal deixava claro que aquilo já não era mais uma escolha para ela. Eles iriam até o telhado. 

- Riza Nakano, eu tenho todo o tempo do mundo. Me acompanhe até o telhado - Novamente, como da vez que ele apontara para o sofá onde ela estava sentada, aquilo não era um pedido - Você, que certamente busca me impedir, pode aprender um pouco mais no telhado. Ou, se for de sua escolha, eu posso fazer uso de uma opção. Uma que certamente você não quer ver.

Ao falar aquilo, o cabo da pistola que ele carregava destacou-se para fora de seu bolso. As pessoas do lado de fora ainda estavam sobre o transe infernal que Johan colocara nelas. Certamente ele estava disposto a repetir o que fizera com aquelas outras famílias.

- Sim. Eu irei fazer de você um exemplo. Irei vestir um sobretudo marrom e um chapéu fedora no processo - Falou Johan, apesar de ter sido uma piada não havia nenhum indício de sorriso em seus lábios ou um tom brincalhão em sua voz. Mas era claro que ele não estava falando sério - Devo também afundar seus pés em cimento?


Ao saírem para o corredor, as pessoas que estavam lá inspiraram profundamente. Nenhum deles se moviam, os olhos estavam travados em algum ponto a frente deles, e apenas quando ambos subiram as escadas foi que eles soltaram o ar e voltaram a tremer e respirar. Agora, no topo do prédio, onde havia um local de pouso para os VTOLS da Nexus, o vento passava, forte, cruel e gélido. Não havia ninguém ali. O que poderia ser visto como uma vantagem, uma vez que era possível que Johan acabasse por matar alguém. Ele puxou Riza pela mão, levando-a até a beirada do prédio. 


Havia ali um parapeito de concreto, para que as pessoas evitassem cair. E Johan subiu em cima dele, olhando para baixo. O prédio era alto, muito alto. Se Riza o empurrasse, ele cairia e morreria, era óbvio que não haviam AUGS no corpo dele, nada que pudesse salvá-lo de uma queda daquelas. Apenas um ato de coragem e o monstro iria morrer, ninguém precisaria mais sofrer nas mãos dele. Porém, Riza tendo essa ideia ou não, Johan olhou para ela. Um olhar que deixava claro. Matá-lo seria inútil, poderia até lhe dar paz de espírito de salvar as vidas de outras pessoas. Mas, se todas as vidas eram iguais e todos podiam ser salvos, empurrar Johan seria uma escolha certa? Estaria Riza pronta para jogar fora seus ideais apenas para matar aquele homem? 


Antes que ela pudesse se decidir, Johan olhou para baixo. Para toda aquela enorme altitude. E não houve reação nenhuma da parte dele. Não havia medo, não havia nada. Ele deu alguns passos para frente, continuando a olhar para baixo. Qualquer outra pessoa morreria de medo, incapaz de se mover. Mas cada passo dele era confiante, por instinto, nem mesmo calculado eram. Ele apenas sabia que não ia cair. Ele caminhou por toda a extensão dele, seus olhos fixos nas ruas abaixo.

- Esse prédio é alto demais para brincar direito - Ele falou, saltando do parapeito e voltando para perto de Riza - Se fosse mais baixo, eu deixaria o jogo ocorrer normalmente. Mas esse não é o caso - Johan olhou para Riza - Suba, olhe para baixo e ande.


Uma ordem insana. Não precisaria de muito para matar Riza.

- Não se preocupe, eu estarei segurando sua mão. Você não vai cair - Afirmou Johan - Se o prédio fosse menor, poderíamos jogar direito. Mas, se algum dia achar um cuja queda não resulte na sua morte instantânea, brinque sem eu. O importante não é chegar ao final. Caindo ou não, você vence de qualquer jeito. Mas, se cair e sobreviver, é prova de que o destino a escolheu. E caso caia, quando acordar, dê uma volta pela cidade. Tudo estará mudado.

Talvez, apenas talvez, Johan estivesse realmente além da compaixão. Talvez ele não pudesse ser salvo. Mas, seria mesmo aquele monstro um incapaz de ser resgatado das trevas que haviam claramente consumido-o? Não importava. Atrás da maioria dos assassinos, há um passado trágico. Isso justifica as mortes que eles causam? Seria a morte de outras pessoas o suficiente para acalmar todo aquele sofrimento que os consumia por dentro, aquele mesmo que certamente havia destruído Johan?

- Eu ser ou não ser um louco é algo que realmente importa? - Ele questionou, mantendo seus olhos grudados nela - Esse jogo irá matá-la? Por causa de seu coração metálico? 

Parecia uma pergunta justa, uma vez que Johan havia adquirido o conhecimento do estado atual do coração de Riza. Ou melhor, o estado anterior. Ele não sabia sobre o que o pai dela fizera, uma vez que Jensen não havia comentado sobre aquilo e a informação não havia vazado. Não ainda, pelo menos. Pois tudo o que ele precisava fazer era conseguir '' conversar '' com um dos cientistas que sabotavam as criações de Riza e ele iria descobrir.

- Se esse for o caso, suponho que isso seja inútil. O plano era você poder começar a ver o que eu vejo. Vamos ter que tomar o caminho longo para que isso aconteça.