Apartamento de Riza Nakano

- Muito bem - Ele falou, com claro orgulho quando ela subiu em cima do parapeito - Mantenha seus olhos lá embaixo. Imagine o que aconteceria se você caísse, imagine sua morte, imagine a escuridão. 

Ele segurava a mão de Riza com calma, porém estava claro que não estava nos planos dele deixá-la cair. Conforme ela caminhava, ele acompanhava tranquilamente. A sensação que Riza poderia sentir era avassaladora, a maioria das pessoas não conseguiam dar muitos passos sem sentirem aquele enorme medo que adentrava todos os cantos do corpo, fazia com que o coração se acelerasse, deixava as pernas tremendo e criava aquela sensação de pavor supremo. É claro, uma coisa é olhar para uma enorme queda e sentir medo. É um medo considerável.

Mas o terror que Johan Liebert é capaz de causar é completamente diferente. Se Johan pudesse ser considerado um humano, poderia dizer-se que ele segurava a mão de Riza com certo carinho, mas não havia nenhuma emoção ali, nenhum apego. Nada. Johan Liebert era vazio por dentro. Certamente uma soma de eventos traumáticos, mais as várias experiências que haviam sido feitas nele resultaram naquela coisa que segurava a mão de Riza e a incentivava a caminhar pelo parapeito. 

- Sentiu? Esse medo? Essa sensação de inutilidade? De que tudo o que fez foi em vão? - Ele questionou e após a resposta dela - Então já é o suficiente, hora de descer. 

Johan aproximou-se e segurou Riza pela cintura, puxando-a de cima do parapeito e colocando-a no chão. Por algum motivo, a enorme queda do prédio onde Riza morava não lhe daria tanto medo quanto olhar para Johan Liebert. A pior parte eram suas ações. Segurar a mão de Riza, garantir que ela estaria segura, ajudá-la a descer com todo o cuidado. Ações humanas, que qualquer pessoa poderia fazer. Mas faltava algo ali.

Faltavam sentimentos.

- Olhe. Olhe para o céu, olhe para os prédios. Tudo mudou, não mudou? - Era como se o mundo estivesse com um pouco menos de cor, como se aquela experiência tivesse começado a cortar algo dentro de Riza.

- Tentador, não é? - Perguntou Johan, apoiando sua mão no ombro direito da garota, conforme passava por ela - A vontade de acabar com aquilo que você desgosta. Mas, não há motivos para que você se preocupe. Não há a necessidade de tentar me matar. A morte chega para todos.


Ele passou por ela, caminhando tranquilamente. Acima deles, um VTOL descia, não era um da Nexus, disso ela sabia. As portas laterais foram abertas, revelando algumas pessoas do lado de dentro, todas fortemente armadas. Estava claro que aquilo era um destacamento dos Tyrants e que, apesar de ele ser o atual líder deles, ninguém ali apreciava a presença de Johan. Na verdade, a maioria o olhava com medo nos olhos, temendo pelo o que aquele rapaz loiro pudesse fazer.

- Ainda não, é cedo demais e você não pode ver. Mas no futuro você verá - Disse o alemão, colocando suas mãos em seus bolsos de uma maneira muito tranquila. Ele estava no controle daquela situação, por mais que não pudesse fazer nada diretamente - Eu já vi o fim várias vezes, Riza, mas eu finalmente fui agraciado com ele. Como Cenário do Fim do Mundo. And you will see, oh, you will see. I wonder, what will you do after that? Will your values still hold up? Or have I just created another Monster? 

Ele deu de ombros, voltando-se para o VTOL e subindo nele.

- For the love of life, we'll defeat this. They may tear us down but we'll go down fighting ♫ - Cantarolou o monstro, pouco antes do VTOL fechar suas portas e partir - Won't we?

Riza ficou apenas observando com um olhar vazio enquanto Johan se despedia e o VTOL se afastava junto com a voz e a presença do monstro. O mundo era diferente. Sem cor, sem vida. No andar inferior, pelo menos um corpo morto, varias pessoas sob a influência de uma toxina desconhecida. Sem falar em seus familiares. “Você faz parecer que eu deixo alguém vivo.” 

As imagens do massacre que ela vira na TV na casa de Jensen voltaram à sua mente e ela se abaixou e ali mesmo seu estômago não resistiu. Ficou ali por algum tempo. Não queria descer. Não queria fazer nada. 

Afinal, entrou no elevador. Passou direto por seu andar e desceu até um laboratório, onde, no lavabo, lavou o rosto e tirou o gosto de bile da boca. Ela não ousou olhar pra cima, para o espelho. Sem pegar nada, voltou para o elevador e continuou descendo. Logo ganhava as ruas de Neo Tokyo.